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Como usar inteligência artificial sem ser um bobo alegre

Quatro pontos essenciais para usar IA generativa sem cair no hype ou no pânico

Como usar inteligência artificial sem ser um bobo alegre
Arte por Rodolfo Almeida/Núcleo Jornalismo

Desde o lançamento do ChatGPT, da OpenAI, no fim de 2022, vejo recorrentemente nas redes sociais dois tipos de pessoas: 1. aquelas deslumbradas com inteligência artificial generativa que mal podem esperar para se entupir desses recursos e 2. aquelas que desprezam esse avanço tecnológico com todas as suas forças e fogem da mera menção do termo IA.

Uma coisa que eu aprendi nesses últimos anos: IA generativa pode ser útil se você souber usá-la sem ceder ao deslumbre e ao exagero. Eu, por exemplo, uso o Claude, da Anthropic, rotineiramente no meu dia, para coisas como programação, checar ortografia, formatação de dados e refinar meus textos, especialmente em inglês. Às vezes uso Perplexity para buscas coisas específicas.

Mas eu evito entrar muito de cabeça nesse mundo, sem ver o que está na minha frente. Nunca me esqueço de quem são as empresas megazórdicas por trás dos modelos, do impacto social e ambiental da IA, da falta de regulação, do impacto na desinformação e da pressão insistente e descarada para impregnar todos os produtos digitais (mesmo os que não precisam) com essas novas tecnologias.

Espero que os pontos abaixo lhe ajudem a usar e se beneficiar dessas ferramentas sem perder a crítica do que elas são e a quem pertencem.

1. Use com moderação

🗨️
ARGUMENTO
Você não precisa usar IA para absolutamente tudo. Além da questão de precisão de informações e dados, as ferramentas de IA tendem a escrever textos genéricos, sem personalidade, com uma estrutura bem engessada. Pessoas espertas conseguem identificar isso com razoável facilidade e preferem coisas originais do que sintéticas.
⁉️
QUESTIONE-SE
Será que você quer que um agente de IA escreva uma mensagem de aniversário pra sua mãe ou dê conselhos veterinários sobre seu cachorro? Você precisa ilustrar seus posts no LinkedIn com arte genérica feita por IA? Você acha boa ideia mesmo pedir pro chatbot escrever uma carta de apresentação a um potencial investidor ou empregador?
🧠
TENHA EM MENTE
Há sim vários usos muito úteis, como: resumir documentos, checar gramática, fazer pesquisa, sugerir ideias, traduzir textos, formatar dados, desenvolver automações, programar e fazer pesquisas, entre muitos outros – sempre levando em conta que essas ferramentas frequentemente mentem ou erram grotescamente.

2. IA para humanos, não em vez de humanos

🗨️
ARGUMENTO
Não há como evitar: os chatbots de IA possuem limitações reais, por mais que você ache utilidade neles. Essas limitações incluem alucinações frequentes (quando os modelos inventam coisas), limites de uso (afinal, custa caro processar monstruosos volumes de dados), incapacidade de realizar tarefas simples, insistência em soluções erradas e a pura e simples padronização textual.
⁉️
QUESTIONE-SE
Você realmente acha que modelos de IA conseguem fazer seu trabalho melhor do que você? Você vai confiar uma parte importante da sua vida aos resultados de uma tecnologia que constantemente mostra sinais de alucinação? Como a automatização de tarefas pode ajudar sua vida?
🧠
TENHA EM MENTE
Embora os modelos tenham muito mais conhecimento do que os seres humanos, eles não conseguem pensar em problemas reais e, portanto, não têm capacidade de lidar com todas as ramificações e decisões que a vida nos exige diariamente.

Seu uso de IA generativa vai ficar muito melhor quando você perceber que, em vez de lhe fornecer soluções, essas ferramentas podem apresentar caminhos e melhorias para o seu trabalho, mas não fazer o trabalho em seu lugar, com a qualidade e a consideração necessárias. IA pode ser uma extensão para melhorar seu trabalho, não para resolver todos os seus problemas.

3. Evite humanizar a IA

🗨️
ARGUMENTO
Você ficaria de conversa com o seu carro? Humanizaria o seu teclado? Ou, até mesmo, tem trocado ideias com sua Alexa? Sim, de fato essas coisas não respondem de volta como um chatbot, não têm "personalidade".

Mas se você levar em consideração que os modelos de IA são, de maneira bem primitiva, probabilidades estatísticas complexas de uma palavra suceder a outra em um certo contexto, então conversar com seu chatbot pode ser quase a mesma coisa que falar com um dispositivo (ao menos por enquanto).
⁉️
QUESTIONE-SE
Você realmente acha que seu chatbot tem vontade própria? Acredita que ele tenha consciência? Quanto mais você pensar nisso, mais fácil será você encarar a IA pelo que ela realmente é: uma ferramenta com muito conhecimento, mas sem vida.
🧠
TENHA EM MENTE
É OK você ficar trocando ideias com chatbots de IA se for algo para divertir, entreter ou instruir. Apenas leve em conta que usar essas ferramentas consomem significativa energia e água em seus data centers. Verdade seja dita, outros serviços digitais, especialmente streaming, também drenam bastante recursos naturais. Não precisa evitar de usar nada, apenas tenha em mente isso tudo antes de ficar de bobagem com IA.

4. Seja crítico com as empresas

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ARGUMENTO
Google, Meta, Amazon, Microsoft, NVIDIA, Apple e outras: algumas das principais empresas desenvolvendo e usando inteligência artificial também são as maiores corporações do mundo, e já possuem impactos significativos na sociedade.

Essas empresas usaram todo o conteúdo da internet sem permissão de autores e têm demitido milhares de pessoas por conta de mudanças estratégicas, além de seus produtos estarem mudando a natureza de muitos trabalhos modernos.
⁉️
QUESTIONE-SE
Por que você acha que Meta e Google, por exemplo, estão entupindo todos os seus produtos com IA? Como os avanços no setor de inteligência artificial servem para substituir o trabalho humano? Por que essas empresas estão usando materiais protegidos por direitos autorais sem recompensar os autores?
🧠
TENHA EM MENTE
É importante sempre levar em conta os problemas da concentração de poder, dinheiro e recursos, mesmo frente a potenciais benefícios que podemos colher com essas tecnologias.
Edição Alexandre Orrico
Sérgio Spagnuolo

Sérgio Spagnuolo

Jornalista e diretor do Núcleo. Em 2014, criou a agência de newstech Volt Data Lab. Foi Knight Fellow no ICFJ e diretor na Abraji, além de ter colaborado com vários veículos nacionais e internacionais

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