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Bluesky tem todos os recursos do X, agora só faltam os usuários

Novas ferramentas, como verificação de perfis e controle de notificações, deixam Bluesky ainda mais parecido com o finado Twitter

Bluesky tem todos os recursos do X, agora só faltam os usuários
Arte: Aleksandra Ramos/Núcleo Jornalismo
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Raio-X é uma editoria de análise opinativa sobre tecnologia e internet.

O Bluesky nasceu de uma ideia dentro do Twitter e evoluiu, com seu lançamento em 2023, para se tornar uma cópia quase exata (interface e tudo), com alguns recursos a mais e possibilidade de personalização de feeds, mas notavelmente similar.

Com muitos usuários insatisfeitos com o X, tinha tudo para ser o substituto ideal – só faltou os usuários virem em peso. Mas, em termos de recursos, o Bluesky realmente está entregando.

Fora os recursos toscos de IA do X, a plataforma liderada por Jay Graber agora já possui todos as principais ferramentas de redes sociais do concorrente mais velho que até pouco tempo atrás não tinha: DMs, trending tópicos, listas, suporte para vídeos.

Recentemente, adicionou dois novos recursos para reduzir a distância.

O primeiro é a verificação feita pela própria plataforma – uma mistura de símbolo de status com veracidade de propriedade. O Núcleo, inclusive, já tem. O segundo é a capacidade de ter maior controle de notificações, dessa vez por perfis.

Print de tela de página do Núcleo

Isso coloca a plataforma em relativo pé de igualdade com o X, com o benefício de ter políticas e ferramentas de moderação um pouco melhores e zero anúncios (por enquanto, diga-se) – sem falar nas características de descentralização, que eu vou deixar de lado aqui pra você não dormir.

Mas a massa simplesmente não tá tão interessada.

Sim, a plataforma tem visto um aumento constante de novos usuários, após ter bombado no segundo semestre de 2024 com o bloqueio do X no Brasil, em setembro, e a eleição do presidente dos EUA, Donald Trump, em novembro.

Naquela época, a plataforma cresceu tão rapidamente por um tempo que passou a ter os mesmos problemas de moderação que impregnaram nos rivais maiores: spam, assédio e até abuso infantil.

Brasil sobrecarregou moderação do Bluesky em 2024
Em ago.2024, quando o X foi suspenso, usuários brasileiros chegaram a mandar 50 mil denúncias por dia na plataforma
Bluesky tem dificuldade em moderar conteúdo de abuso infantil
Núcleo e pesquisadoras investigaram a plataforma e mapearam mais de 125 perfis em língua portuguesa que vendem ou compartilham material de abuso sexual de crianças no Bluesky.

Ao fim de out.2024, o Bluesky tinha 13 milhões de usuários. Agora, tem mais de 37 milhões – ainda bem menos do que os mais de 200 milhões X, mas ainda assim quase 3x maior. Só que é pouco para criar o volume crítico de influência que uma rede social mainstream tem.

Acontece que a fricção de troca de plataformas ainda é grande, por mais que a experiência de uso seja basicamente idêntica.

Se, por um lado, os usuários comuns não querem perder toda customização de seus feeds e migrar pra um lugar só pra ter que seguir as mesmas pessoas de novo, de outro os influenciadores, jornalistas, personalidades e empresas não querem abrir mão de seus seguidores – mesmo que o algoritmo entregue muito menos.

O fato de começar do zero colocou o Bluesky na mesma sinuca de bico que outras redes sociais que tentaram dar o golpe no rei: as pessoas simplesmente gastaram muito tempo naquele reino para largar tudo de uma vez.

Um avenida

Um caminho possível, embora ainda improvável neste momento, é o Bluesky começar a entregar suas promessas de descentralização (pronto, falei dela).

Descentralizar redes sociais é algo complexo na prática e na técnica, mas não é tanto assim no conceito: em um nível bem básico, significa que duas ou mais plataformas são construídas em cima das mesmas regras de comunicação, o que permite com que essas plataformas conversem umas com as outras.

Ou seja, você pode publicar em uma rede e seu post aparece em outra, ou pode seguir uma pessoa em uma plataforma que ela não tem nem conta. Ou, ainda, pode migrar para uma rede nova e levar consigo todos os seus seguidores.

Isso ainda tem pouco valor prático. Redes como o Mastodon existem há quase 10 anos em cima dessa promessa, mas sem conseguir vender valor pra grande massa de usuários, que só querem usar redes sociais, não se preocupar com o funcionamento delas.

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DUAS ABORDAGENS
Há dois protocolos (regras de comunicação) principais que guiam a descentralização das redes sociais.

1. ActivityPub - usado por redes como Mastodon e em outras aplicações, facilita a interação entre servidores (ou redes) diferentes;
2. ATProtocol - desenvolvido pela equipe por trás do Bluesky, é uma abordagem diferente para redes sociais descentralizadas, focando em aspectos como portabilidade de contas e algoritmos personalizáveis.

Ambos visam descentralizar o controle das redes sociais, mas com abordagens técnicas e objetivos distintos.

Estima-se que o chamado fediverso, protocolo por trás do Mastodon, tenha menos de 3 milhões de usuários ativos.

O que mudou agora, no entanto, é uma nova leva de produtos bem interessantes construídos em cima de protocolos abertos.

Pra começar, a plataforma de conteúdo Ghost (sob a qual publicamos o site do Núcleo) já começou sua integração como fediverso e até com o Bluesky. O Flipboard está em fase de testes de seu agregador Surf. E o Threads, da gigante Meta, está cada vez mais implementando integrações via fediverso.

Se e quando os elementos descentralizado forem potencializados (ou seja, quando houver mais plataformas operando em cima da mesma arquitetura de dados), talvez as chances do Bluesky sejam maiores do que apenas adicionar novos recursos para ficar ainda mais igual aos dias de glória do Twitter.

Sérgio Spagnuolo

Sérgio Spagnuolo

Jornalista e diretor do Núcleo. Em 2014, criou a agência de newstech Volt Data Lab. Foi Knight Fellow no ICFJ e diretor na Abraji, além de ter colaborado com vários veículos nacionais e internacionais

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