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Como alucinações de IA foram pegas no flagra em 255 casos jurídicos

Levantamento independente registra casos em que tribunais chamam explicitamente a atenção de advogados pelo uso de IA. Ferramentas citam leis e jurisprudências inventadas.

Como alucinações de IA foram pegas no flagra em 255 casos jurídicos
Arte: Rodolfo Almeida

Precedentes jurídicos inexistentes, referências a leis que não existem e menções a doutrinas inventadas. Desde 2023, foram registrados ao menos 255 casos em que as chamadas "alucinações de IA" foram parar em petições, recursos e outras peças jurídicas em tribunais ao redor do mundo.

Em boa parte dos casos, os autores das peças foram punidos com sanções monetárias (multas) ou profissionais (advertências e outras medidas disciplinares).

O número vem de um levantamento independente realizado pelo pesquisador e cientista de dados francês Damien Charlotin, especializado no uso de modelos de inteligência artificial do tipo LLM (Large Language Model) no judiciário. Os resultados do levantamento estão disponíveis online e qualquer um pode enviar novos casos para serem incluídos na base de dados mediante análise.


É importante porque...

O uso de inteligência artificial no poder judiciário ainda é pouco regulamentado pelo mundo

Modelos de inteligência artificial frequentemente produzem informações inventadas


O levantamento documenta todos os casos sabidos em que o uso de inteligência artificial – comprovado ou alegado – é explicitamente mencionado pela corte ou tribunal responsável pela decisão. Isso significa que a listagem não representa todos os casos de uso de IA em processos jurídicos. Outros usos podem (e certamente devem) ter passado despercebidos pelas partes e não ter sido mencionados nos autos ou escapado ao levantamento do pesquisador.

Os casos documentados nessa base de dados são uma tentativa de registrar o uso não sinalizado de IA no processo legal. Apesar de incipiente, o uso é pouco regulado e já vem criando problemas por aí. O Tribunal Superior do Reino Unido, por exemplo, já advertiu advogados sêniores para que ajam com urgência para impedir o uso indevido de IA depois que dezenas de peças foram apresentadas ao juízo com citações a casos completamente inventados – em um deles, a IA inventou 18 de 45 citações em um caso de 89 milhões de libras contra o Banco Nacional do Catar.

No Brasil, segundo o levantamento de Charlotin, há 6 casos brasileiros emblemáticos (e muitos outros potencialmente não identificados):

Em alguns casos, não se trata de um advogado que apresenta uma peça jurídica contendo alucinações em nome de um cliente, mas sim da própria parte atuando em defesa de si mesma, sem a assistência de um advogado.

O levantamento completo, com descrições detalhadas de cada caso, pode ser conferido no site original (em inglês).

Texto, arte e gráficos Rodolfo Almeida
Edição Alexandre Orrico e Sérgio Spagnuolo
Rodolfo Almeida

Rodolfo Almeida

Rodolfo Almeida é jornalista visual. Graduado em Jornalismo pela PUC-SP e Mestre em design pela UFRJ, é membro do LabVis-UFRJ. No Núcleo, é responsável por materiais e reportagens visuais e gráficos.

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