O programa de câmeras com uso de reconhecimento facial em São Paulo, o Smart Sampa, não gerou impacto nos crimes de furto, roubo e homicídios desde que foi implementado, em fevereiro de 2024. A conclusão é de um estudo lançado na última sexta-feira (25.jul.2025) pelo projeto Panóptico, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).
A pesquisa também não identificou diferença estatisticamente significativa nos dados de prisões em flagrante e de prisões por mandado judicial.
Os autores analisaram os indicadores nas delegacias da capital paulista que fazem parte do programa, antes e depois da implementação, e compararam com as delegacias de outras cidades do estado que não fazem parte do programa, a partir dos dados da Secretaria da Segurança Pública.
O método permite verificar se os dois grupos estavam seguindo trajetórias parecidas antes do Smart Sampa, sendo que qualquer diferença adicional na mudança ocorrida após a implementação da política pode ser interpretada como o efeito dessa política, de acordo com a pesquisa.
Apesar de o Smart Sampa ser uma bandeira do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para o enfrentamento à criminalidade, os resultados mostram o oposto, aponta Thallita Lima, coordenadora de pesquisa do Panóptico.
"Embora se tenha tido um gasto gigante com a Smart Sampa, com o custo de quase R$ 10 milhões por mês, lidando com uma tecnologia que tem questões problemáticas, que tem com muitos erros de identificação, no trade-off [balança entre riscos e benefícios] você não tem o benefício que ela tanto fala que promove", afirma.
De acordo com relatório divulgado em junho pela prefeitura, das 1.246 abordagens realizadas, 82 pessoas foram levadas à delegacia e liberadas depois. Dentre elas, os principais problemas foram (53) ausência de baixa de mandado no Banco Nacional de Mandados de Prisão, (23) inconsistências no reconhecimento facial e (6) inconsistências cadastrais entre as plataformas integradas ao Smart Sampa.
A prefeitura diz no documento que ninguém foi mantido preso por erro de reconhecimento facial. Contudo, Thallita Lima ressalta que essas 82 detenções por erros, seja do reconhecimento, seja da desatualização de bancos de dados, acarretam consequências, como o constrangimento que um idoso voluntário de uma unidade de saúde sofreu ao ser confundido com um estuprador foragido por reconhecimento facial.
Para ela, a publicação do relatório é um avanço, mas ainda falta transparência sobre os protocolos da polícia quando acessam essas informações e a proteção desses dados.
Procurada pelo Núcleo, a assessoria da Secretaria Municipal de Segurança Urbana desqualificou o estudo ao afirmar que a análise faz "comparações inadequadas e tem falhas de metodologia" e tem uma introdução "carregada de afirmações politizadas, sem qualquer respaldo nos dados analisados no próprio estudo ou em estatísticas e evidências técnicas".
Leia a íntegra da nota da prefeitura
A Prefeitura de São Paulo lamenta que o estudo "Smart Sampa vigia, mas não protege” adote comparações inadequadas e tem falhas de metodologia. Portanto, é incorreto afirmar que o Smart Sampa tem “efeito zero”.
Trata-se do maior sistema de monitoramento da América Latina, com mais de 31 mil câmeras, e seus resultados provam sua eficácia. Ao contrário do que o estudo citado sugere, temos os seguintes resultados obtidos com auxílio do Smart Sampa:
* 2.965 criminosos presos em flagrante graças ao uso do sistema.
* 1.558 foragidos da Justiça capturados. Entre eles, homicidas, estupradores, traficantes, um líder de facção e um integrante da máfia chinesa. Todos foram conduzidos à delegacia pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) sem um único disparo de arma de fogo registrado.
* 79 pessoas desaparecidas foram localizadas e devolvidas às suas famílias.
O algoritmo do Smart Sampa passou por atualização e elevou o rigor de 90% para 92% de similaridade para alertas positivos, alcançando uma assertividade de 99,5%. O estudo também não detalha como analisou o período anterior ao Smart Sampa nem considera outros fatores que afetaram os indicadores. Uma análise adequada deveria comparar São Paulo antes e depois do programa e, também, com cidades de porte semelhante, em vez de municípios do interior do Estado. A verificação de antes e depois da operação do sistema mostra uma melhora significativa na segurança urbana da capital.
Os indicadores oficiais de segurança, que o estudo ignorou, também desmentem a tese apresentada: a cidade de São Paulo registrou em maio de 2025 o menor número de roubos para o mês nos últimos 25 anos. Na Avenida Paulista, com o apoio de uma base móvel do Smart Sampa, a Operação Paulista Mais Segura alcançou uma redução de 75,27% nos roubos e 50,32% nos furtos em junho.
Outra falha do método de estudo é comparar a capital com cidades do interior do Estado, que possuem realidade social, econômica e criminal diferente da capital São Paulo, uma metrópole que corresponde sozinha a mais de 25% da população do Estado e tem PIB superior ao de países.
Os estudiosos falham também ao apresentar uma introdução carregada de afirmações politizadas, sem qualquer respaldo nos dados analisados no próprio estudo ou em estatísticas e evidências técnicas.
Cabe destacar que o Smart Sampa é um sistema avançado que não utiliza cor da pele como critério, trabalhando apenas com pontos biométricos faciais. Todos os alertas são obrigatoriamente validados por agentes humanos, um nível de rigor que não é observado em sistemas de reconhecimento facial utilizados em outras partes do mundo - pontos desprezados no estudo.
O resultado é que nenhuma pessoa foi presa incorretamente ou injustamente a partir de abordagens iniciadas pelo sistema, conforme apresentado no relatório de transparência publicado em maio deste ano.
Além de atuar na prevenção e no combate à criminalidade, o Smart Sampa tem se mostrado uma ferramenta fundamental para o trabalho de investigação conduzido pela Polícia Civil. De novembro a maio, imagens de 275 ocorrências foram compartilhadas com o órgão, com contribuição determinante para o avanço de casos como o assassinato de um ciclista no Parque do Povo, a morte de um empresário durante um assalto nos Jardins e o atropelamento de um vigilante no Brás.
Por fim, vale destacar que o Smart Sampa é aprovado por 91% da população, segundo pesquisa do instituto Real Time Big Data divulgada em abril — um reconhecimento claro de sua eficácia e aceitação pela sociedade.
⚠️ Texto atualizado às 14h15, de 29.jul.2025, para incluir resposta da prefeitura.