Um grupo de trabalho montado pelo governo federal para elaborar uma Política Nacional de Data Centers (PNAC) recomendou que toda da energia consumida por data centers no Brasil venha de fontes não fósseis. A indicação é que essas estruturas utilizem sistemas de resfriamento mais eficientes, em uma tentativa de reduzir o impacto ambiental desse tipo de operação e viabilizar o país como destino para investimentos internacionais em infraestrutura de inteligência artificial.
A recomendação consta em uma apresentação técnica publicada no site do Ministério da Fazenda e apresentada inicialmente em audiência pública no Senado, em 28.mai.2025, enquanto o Congresso discute o PL 3028/2024, que regula data centers de IA.
O documento reconhece que data centers geram poucos empregos e pressionam recursos como água e energia, mas reforça o interesse do governo em consolidar o Brasil como hub digital.
O governo está fazendo um plano para gerar até R$2 trilhões em investimentos em data centers no Brasil nos próximos 10 anos, impulsionados por incentivos financeiros e benefícios fiscais a empresas estrangeiras.
Participam da elaboração da PNAC representantes do Ministério da Fazenda (MF), Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Ministério de Minas e Energia (MME), Ministério da Gestão e Inovação (MGI) e da Casa Civil da Presidência.
QUEREM MUITO. A apresentação evidencia a demanda do setor privado para novos datacenters no país. Entre as principais conclusões da apresentação, o grupo de trabalho argumenta que data centers representam uma infraestrutura essencial para a economia brasileira em um mundo digital e que são “chave para a competitividade brasileira”.
Os ministérios alegam que “o avanço rápido da IA acelera e amplifica brutalmente a relevância estratégica dos datacenters”, projetando, com dados do Goldman Sachs, um aumento de 600% nos investimentos globais em infraestrutura de IA nos próximos oito anos.

SIGILO. O Núcleo solicitou, via Lei de Acesso à Informação, os pareceres e notas técnicas que embasam um programa de atração de cata centers, mas teve o pedido negado. Os documentos preparatórios, porém, seguem em sigilo no MF e no MDIC, que lideram as articulações com Executivo, Legislativo e setor privado.
O governo usa como respaldo jurídico o Art. 20 do Decreto n.° 7.724, que restringe o acesso a documentos preparatórios até a publicação da decisão oficial.


POSSÍVEIS RISCOS. A apresentação do grupo interministerial reconhece preocupações da sociedade civil, como o consumo elevado de água e energia, o risco de encarecimento na conta de luz e o baixo número de empregos diretos gerados após a construção.
Para contornar impactos negativos, a apresentação sugere mitigações como:
- exigência de métodos mais eficientes para uso de recursos hídricos;
- contratos de energia 100% não fóssil;
- e o fomento de pesquisa e desenvolvimento financiado pelos projetos.
Essas sugestões, no entanto, não respondem a uma questão central: locais de risco de seca que já estão sendo explorados.
Ao menos cinco dos 22 projetos de construção de datacenters em fase de autorização do governo federal estão em cidades que enfrentam crises hídricas, revelou reportagem do Intercept Brasil.
Por Sofia Schurig
Edição Sérgio Spagnuolo