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UE distribui bordoadas em Big Techs por práticas abusivas

Multada em €200 mi, a Meta acusou a UE de prejudicar empresas americanas; a Apple, com multa de €500 mi, disse ser injustamente visada e forçada a oferecer sua tecnologia “gratuitamente”.

UE distribui bordoadas em Big Techs por práticas abusivas
Arte por Rodolfo Almeida/Núcleo

A União Europeia determinou nesta quarta (23.abr) que Apple e Meta paguem €700 milhões (cerca de R$4,5 bilhões) em multas por violações à Lei de Mercados Digitais (DMA, na sigla original), criada para conter abusos das big techs. É a primeira vez que a norma, em vigor desde 2023, resulta em sanções financeiras.

As investigações começaram em mar.2024. Três meses depois, a Comissão Europeia, órgão executivo da UE, notificou ambas as empresas com uma avaliação preliminar que já apontava violações à legislação.

APPLE. A multa de €500 milhões (R$3,2 bi) contra a Apple vem por descumprir uma exigência do DMA: liberar a instalação de apps por canais alternativos à App Store, como já ocorre no Android.

A empresa alega que abrir totalmente o iPhone a apps de qualquer origem seria tecnicamente complexo e arriscado. Mas, segundo a Comissão, a Apple ainda “não conseguiu demonstrar que essas restrições são objetivamente necessárias e proporcionais.”

MUDOU UM TICO. Após a notificação no ano passado, que apontava outras possíveis violações ao DMA, a Apple promoveu certas mudanças no iOS para usuários da UE — medidas que podem tê-la livrado de uma multa ainda maior.

A empresa criou uma tela mais clara para seleção de navegadores (antes, o Google era o padrão), facilitou a troca de aplicativos padrão — como mensagens, teclado e tradutor — e passou a permitir a exclusão de apps pré-instalados, como o Safari.

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META. A multa de €200 milhões (R$1,3 bi) contra a Meta se refere a um modelo de anúncios que, embora corrigido, causou danos aos usuários, segundo a Comissão.

Pelo DMA, empresas gatekeepers precisam pedir consentimento para combinar dados pessoais entre serviços — como Facebook e Instagram — e, se o usuário recusar, ele deve poder continuar usando as plataformas gratuitamente, com menos personalização, sem perder recursos.

💡
Em 6 de setembro de 2023, a Comissão Europeia designou pela primeira vez seis gatekeepers — Alphabet, Amazon, Apple, ByteDance, Meta, Microsoft — sob o DMA. O termo refere-se a grandes empresas de tecnologia que operam os principais serviços digitais essenciais, como sistemas operacionais, redes sociais, mecanismos de busca, plataformas de vídeo etc.

Em novembro de 2023, a Meta criou o modelo “consentir ou pagar”: ou o usuário aceitava o uso de dados para anúncios personalizados, ou pagava uma assinatura para navegar sem publicidade. A UE considerou a prática ilegal por não oferecer uma alternativa gratuita equivalente.

Só em nov.2024, após meses de pressão, a empresa lançou uma nova versão, prometendo reduzir o uso de dados para anúncios gratuitos. A Comissão ainda analisa se isso é suficiente. A multa cobre o período de março a novembro de 2024, entre a entrada em vigor do DMA e a mudança da Meta.

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É MUITA GRANA, MAS NEM TANTO. As multas são relativamente pequenas em comparação a outras impostas pela Comissão.

Em 2024, a Apple foi multada em €1,84 bilhão por práticas anticompetitivas na App Store, após processo do Spotify.

Já a Meta tem um longo histórico de multas e embates legais com a UE:

REAÇÕES. As multas podem não ser bem recebidas pelo governo de Donald Trump, que tem se oposto às regulações europeias contra as big techs americanas.

Em fev.2025, a Casa Branca criticou as regulamentações da UE e do Reino Unido sobre as empresas de tecnologia americanas.

A Meta acusou a UE de tentar prejudicar companhias americanas bem-sucedidas, enquanto a Apple afirmou estar sendo injustamente visada e forçada a oferecer sua tecnologia “gratuitamente”.

Via BBC, The Guardian, The Verge (todos em inglês)

Sofia Schurig

Sofia Schurig

Repórter com experiência na cobertura de direitos humanos, segurança de menores e extremismo online. É também pesquisadora na SaferNet Brasil e fellow do Pulitzer Center.

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